*Photos: Vogue.pt*
(Feel free to translate this interview, since it is too long for me to do it. You can see the whole collection here)
Desde cedo o nome «Estelita Mendonça» mereceu a nossa
atenção, nesta sua última colecção de Primavera/Verão 2013 deu-nos provas
disso. Deu que falar quando foi apresentada no Portugal Fashion, valeu o
reconhecimento do seu designer nos prémios da FashionTV (enquanto novo talento)
e levou-o a Madrid. Nos últimos dias não se fala de outra coisa, mas afinal
quem é Estelita Mendonça e quais os seus ideais?
Mais uma vez (a outra podem ver aqui) o meu grande amigo Bernardo Cunha conseguiu uma
entrevista exclusiva com este designer do Norte, planeada já há algum tempo.
Como só ele o sabe fazer, aqui fica mais uma belíssima e íntima conversa. Bom resto de Domingo!
Bernardo Cunha: Boa tarde João. Gostaria de lhe colocar a
seguinte questão: qual foi a sensação de receber o prémio de novo talento por
parte da FashionTV ?
Estelita Mendonça: Foi óptima. Não estava de todo à espera e
é sempre bom vermos o nosso trabalho reconhecido desta forma.
B.C.: A sua colecção transmitiu-me a ideia de um homem
moderno, downtown e muito easy-going. É essa a função desta colecção?
E.M.: Sim, a colecção
passa especialmente pelo trabalho de uma
ideia conceptual de um edifício
arquitectónico em tecido e a partir daí acho que só um homem realmente muito
urbano e easy-going é que a consegue utilizar.
B.C.: Qual foi o objecto que o inspirou na criação desta
colecção?
E.M.: Antes de mais foi uma tenda de campismo, como é
visível na colecção , mas também o trabalho de uma artista plástica conceptual,
que se chama Lucy Orta, dos anos 90 e que trabalha também com tendas de campismo. Esta artista forma esculturas urbanas, a
partir daí acho que foi mais fácil chegar à ideia de tenda como forma de
vestuário.
B.C.: Então podemos dizer que esta é uma roupa nómada,
porque a tenda de campismo é algo que vai e vem e para em qualquer lado.
E.M.: Sim, aliás já na colecção passada, de Inverno, era um
bocado essa a ideia. Baseou-se na influência que tem toda a cultura e o meio em
que se vive quando se é emigrante. Tenho bastantes amigos que foram para fora
procurar trabalho em arquitectura, por exemplo. São trabalhos que necessitam de
alguma inspiração e interessou-me a tentativa de perceber como se consegue
inspiração num lugar que não é a nossa casa. Foi um bocadinho essa a ideia e a
partir daí foi muito fácil começar nesta onda mais nómada de ir buscar um
bocadinho aqui, um bocadinho ali, sem cair no básico…
B.C.: Sem cair no gipsy, nos ciganos, no kitsch…
E.M.: Sim, e não só. Quando se fala em nómada ou quando se
diz «vou buscar inspiração a vários países» há muito aquela coisa de ir para o
básico, como o italiano, os bordados japoneses ou o cetim. Tentei ir buscar o
menos lógico para conseguir chegar lá.
B.C.: A tenda é um lugar no meio da natureza onde uma pessoa
pode descansar e sentir-se a salvo. As suas roupas são um lugar no meio da
floresta urbana onde um homem se pode sentir salvo?
E.M.: Acho que sim, pelo menos é essa a ideia e a tentativa
da colecção. Aliás a tenda parte do pressuposto que é a protecção do ser humano,
exactamente o mesmo pressuposto de todas as peças de roupa. Portanto é essa a
ideia, sentirmo-nos seguros e salvos no meio da cidade.
B.C.: Que tipo de homem veste Estelita Mendonça?
E.M.: Eu gostaria de saber isso também, mas a ideia é ser um
homem bastante urbano, sem qualquer tipo de preconceitos e com uma capacidade elevada
de interligação de temas e de conceitos.
B.C.: Vou-lhe fazer uma pergunta que já lhe devem ter feito
várias vezes: quando vê um homem vestido dos pés à cabeça com a marca Estelita
Mendonça qual é a sua reacção?
E.M.: Já me aconteceu e foi uma das pessoas que eu mais
estimo no mundo da moda, o Miguel Flor , fiquei histérico. Fiquei a olhar para
ele e a pensar «Acho que conheço esses calções e essa camisa e esse cinto. Não
me acredito que vieste assim.» Foi uma sensação bastante boa, se bem que a
ideia também é que se possa comprar peças e conjuga-las de outra forma, mas
quando se vê o look total, a ideia toda num espaço que se frequenta é incrível.
B.C.: Voltando agora à colecção Primavera/ Verão, qual é a solução para os
tecidos, estes novos tecidos aliás, estamos a falar de um denim com borracha,
de um nylon, de tecidos mais leves como o poliéster nas calças. Qual é a
relação com a tenda para além de ser impermeável, como os tecidos são?
E.M.: Ora bem, a tenda é um poliéster com um tratamento de
impermeabilização e a ideia aqui foi tentar encontrar e usar tecidos que fossem
confortáveis e que não saíssem do mesmo tipo de material. Por isso fui buscar o
poliéster que é bastante leve e que é quase um algodão. A tenda não é
necessariamente confortável, torna-se confortável pelo seu tamanho e por nos
conseguirmos mexer lá dentro, mas o tecido em si é frio e não oferece conforto.
Quanto ao resto dos materiais, acho que não há nenhum na minha colecção que
possa dizer que realmente não é confortável.
B.C.: Muito obrigada pelo seu tempo.